Kaizen: Eu melhor que quem?
Você já se pegou com aquele sentimento de frustração e injustiça, porque parece que todo mundo está conseguindo vencer e obter reconhecimento no trabalho ou mesmo na vida pessoal e você não? E não importa o quanto se esforce ou se dedique, nunca é o bastante, sempre há alguém com um cargo melhor, mais prestigiado, mais respeitado, melhor remunerado, enfim, sempre aquele sentimento de que aquilo que você é e possui é insuficiente. Mas será que essa comparação é saudável? E quanto ao desenvolvimento pessoal, essa competição infinita com pessoas que muitas vezes você nem conhece, será que pode te levar a algum lugar onde realmente valha a pena estar? E quanto ao nosso desenvolvimento pessoal, satisfação no trabalho e orgulho por nós mesmos? Vamos juntos conversar sobre esse tema e tentar evoluir mais um pouquinho?
Wictor Mariano
6/8/20257 min read


Sou coordenador de uma equipe de onze pessoas. No meu setor, há um cronograma colado em uma das paredes onde divido a equipe em cinco dias, sendo duas pessoas de segunda a quinta e três pessoas na sexta. Todos os dias, faço uma reunião com esses colaboradores, com base nesse cronograma. Essa é minha primeira atividade do dia e, a menos que aconteça algo muito grave que requeira minha atenção imediata, não deixo de fazer essas reuniões. Converso com um colaborador das 7h às 7h30 e com outro das 7h30 às 8h. Na sexta-feira, mais um colaborador, das 8h às 8h30.
Nesses encontros, dou feedbacks sobre o que foi feito de positivo durante a semana, sobre o que precisa melhorar, passo atividades que não fazem parte da rotina e conversamos sobre questões que eles tenham interesse em resolver ou desenvolver profissionalmente. Às vezes, acabamos entrando no campo pessoal também, porque, afinal de contas, tudo está entrelaçado.
Há um colaborador muito querido em minha equipe. Ele vai se desligar da empresa dentro de um mês para mudar de cidade, pois precisa cuidar da avó, que está doente, e cujo tratamento não pode ser feito no local onde moramos. Será uma perda muito grande, porque, além de fazer um excelente trabalho, ele é muito amado por todos no setor. Mas é um motivo louvável, contra o qual não posso sequer argumentar.
Em nossa última reunião, esse colaborador me trouxe uma questão que me fez refletir bastante, e nossa meia hora juntos se tornou mais de uma hora. Esse meu colaborador (e amigo) tem um irmão que recebe um salário robusto, é casado, tem um carro muito interessante e um cargo respeitável onde trabalha. Ele me disse estar se sentindo frustrado por não ter atingido o mesmo patamar financeiro do irmão.
Acredito que, enquanto sociedade, nos desenvolvemos nos comparando muito uns com os outros. A aceitação pelo grupo acaba dependendo de uma aprovação coletiva, com base no valor que agregamos a ele. Ou seja, quanto mais temos, mais somos vistos como pessoas de sucesso, mais somos percebidos como importantes na sociedade — suprindo, assim, nossa necessidade insaciável por aprovação externa.
Imagino que essa característica possa ser positiva quando se trata exclusivamente de "um exemplo a ser seguido", no sentido de esforço e recompensa. Por exemplo: determinada pessoa se tornou diretora da empresa depois de trabalhar vários anos, se formar em uma universidade, fazer diversos MBAs, falar três idiomas fluentemente, etc. Quero me esforçar como essa pessoa para colher frutos tão bons quanto os dela.
Mas, fora desse olhar, entendo essa característica como muito negativa — no sentido de conduzir as pessoas a uma busca literalmente infinita, fazendo-as sentirem que não possuem valor enquanto pessoas por não possuírem riquezas. Sempre haverá alguém mais rico, mais inteligente, mais bonito, com um cargo melhor etc. Se você sempre se comparar aos outros para medir sua satisfação, estará inevitavelmente insatisfeito.
O enriquecimento financeiro é muito bom para o indivíduo e para a sociedade. Negar isso seria, no mínimo, hipocrisia! Porém, em qualquer busca, é preciso primeiro se preparar para a jornada e ter condições de desfrutar o caminho. Até porque podemos passar mais tempo buscando do que desfrutando do prêmio — então, a jornada tem que valer a pena também.
Imagine que você está viajando para um chalé na Serra da Canastra. Contudo, você irá vendado o caminho todo. Perderá muitas paisagens pelo caminho, as quais também trariam grande satisfação.
Outro ponto importante é que o ser precisa vir antes do ter! Para ter um bom salário, primeiro você precisa ser capacitado. Para ter uma boa equipe, primeiro precisa ser um bom gestor. Para ter uma boa esposa, primeiro precisa ser um bom marido. Para ter um bom filho, primeiro precisa ser um bom pai. Para ter um bom lugar na sociedade, primeiro precisa ser um bom cidadão. E, para ter o orgulho de outras pessoas, primeiro precisa ter orgulho de si mesmo, do valor que tem, do que é e do que conquistou até aqui.
Nossas buscas deveriam sempre ser, antes de tudo, para sermos virtuosos e sábios — e só depois, buscar reconhecimento e riqueza. Nas raras vezes em que isso se inverte, ou seja, conseguimos ter antes de ser, ficamos como cachorros perseguindo carros: quando o carro para, o cachorro não sabe o que fazer, e o carro vai embora de vez.
Mesmo entre irmãos, que se conhecem muito bem, não acredito que seja realmente possível (ou saudável) se comparar. Talvez seja inevitável que isso aconteça. Mas deveria despertar um sentimento de admiração e exemplo — não de frustração.
Em resposta a essa questão importante, existe uma filosofia japonesa que atualmente se aplica à gestão: o Kaizen. Essa filosofia implica em melhoria contínua: hoje melhor que ontem, e amanhã melhor que hoje. Pode ser representada por uma escada, onde você sobe um degrau de cada vez e, mesmo que lentamente, não volta ao degrau anterior.
Tratando-se de processos, o Kaizen visa uma análise constante de como os processos produtivos podem ser melhorados, objetivando maior produtividade e/ou redução de custos.
Parece simples, mas é de uma profundidade assustadora. Veja bem: nós, que somos verdadeiros sacos sem fundo — que, não importa o quanto temos, sempre precisamos de mais e mais, e estamos sempre nos comparando com os outros de maneira competitiva e muitas vezes doentia — agora vamos nos comparar e competir com nós mesmos! Essa me parece uma luta justa e que vale a pena ser lutada.
Pense assim: há um ano, você falava apenas português, mas está estudando e já vai bem no inglês. Esse é um degrau subido na escada. No Kaizen, você adquiriu uma vantagem contra “o você do passado”. Agora, você é melhor — mas não melhor que outra pessoa, melhor que seu antigo eu.
No setor em que você trabalha hoje há um sistema operacional que você ainda não domina. Você vai se esforçar para conseguir dominá-lo. Amanhã você será melhor que hoje. Ontem você se irritava com tudo, alimentava conflitos e colecionava inimigos. Hoje você tem paciência, releva e perdoa. Você acabou de vencer mais uma luta contra seu “eu pior” e subir mais um degrau na escada.
Quando faltavam cinco minutos para terminar seu expediente, você já havia desligado seu computador. Hoje, você passa alguns minutinhos do horário apenas para não perder o raciocínio, porque sabe que seu trabalho é muito importante para os objetivos da empresa. Você acabou de se tornar mais responsável — e lá vai mais um degrauzinho ficando para trás.
Olhe só que fantástico! Ao invés de ficar competindo com pessoas do Instagram ou de outro setor da sua empresa, agora você tem um adversário que realmente pode (e deve) deixar comendo poeira todos os dias. A cada batalha vencida, você nunca mais será o mesmo. E, embora o objetivo dessa filosofia seja o melhoramento individual, obviamente você está muito mais próximo do reconhecimento e valorização dos outros do que antes — porque agora você é.
Outro pensamento encorajador: enquanto você viver, seu oponente sempre existirá para ser superado. Porém, agora sem o peso dos sentimentos de frustração, injustiça ou até mesmo inveja.
Nunca se compare, nesse sentido, às outras pessoas. Você não é sequer capaz de imaginar o que há no coração de alguém ou o que ela passou para chegar onde está hoje. Uma visão tão superficial jamais poderá produzir bons frutos.
Gosto muito de pensar na borboleta quando o assunto é Kaizen. Ela é uma lagarta feia e limitada que se transforma em um ser lindo e com grande potencial de liberdade por meio do voo.
Se a lagarta se comparasse com um peixe, porque o peixe pode nadar e ela não, certamente acabaria em maus lençóis ao saltar em um lago — sem jamais desfrutar daquilo que a ele era reservado: os céus.
Kaizen: Eu melhor que eu!


Resumo
Kaizen: Eu melhor que quem?
✔ Reuniões individuais como prioridade – O autor realiza encontros diários com os colaboradores para dar feedbacks, propor desafios e desenvolver aspectos profissionais e pessoais..
✔ Comparações que frustram – Um colaborador compartilhou a frustração de não ter alcançado o mesmo sucesso financeiro que o irmão, despertando uma reflexão sobre o impacto das comparações.
✔ Sociedade baseada em ter, não em ser – Vivemos em um modelo social que valoriza o "ter" em detrimento do "ser", o que leva a uma busca interminável por aprovação e reconhecimento.
✔ A importância de valorizar a jornada – Mais do que o destino final, é fundamental estar preparado para aproveitar o caminho e encontrar sentido na trajetória.
✔ Primeiro ser, depois ter – Para alcançar bons resultados, é necessário antes desenvolver virtudes, sabedoria, caráter e competência.
✔ Kaizen: a melhoria contínua – A filosofia japonesa incentiva a comparação consigo mesmo, buscando sempre superar o “eu de ontem” de forma saudável e constante.
✔ Cada um tem seu tempo e seu propósito – Comparações superficiais são injustas e improdutivas; cada pessoa tem um caminho único, como a borboleta que nasceu para voar, não para nadar.


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