Como enxergo meu trabalho muda tudo: Por que alguns têm crescimento profissional e outros não?

Quando paramos para analisar nosso ambiente de trabalho, nosso setor ou mesmo nossa empresa como um todo, encontramos pessoas que tendo as mesmas condições, acabam tendo destinos diferentes. Ao passo que alguns alcançam grandes cargos e salários, outros continuam sem prosperar. Será que se trata apenas de sorte, puxar saco ou costas quentes? Devemos ignorar o esforço para o crescimento profissional e a busca por desenvolvimento?

Wictor Mariano

4/6/20258 min read

Hoje, sou gestor de pessoas há mais de oito anos. Já atuei em diversos setores e em diversas áreas. Em onze anos em uma mesma empresa, passei por nove cargos diferentes, pelos setores de produção, cronoanálise, departamento pessoal, recursos humanos, qualidade e PCM. Porém, comecei minha carreira no trabalho mais simples possível: eu era auxiliar de produção em uma empresa de confecção, e minha única atividade era desmanchar as peças que os costureiros erravam, para que pudessem costurar novamente.

Quando algum conhecido me perguntava com o que eu estava trabalhando, na época eu respondia brincando que era um “arrebentador de linha”. E, embora eu já não trabalhe mais nessa empresa há muitos anos, gosto de utilizá-la como exemplo, porque nela eu comecei do absoluto nada e saí de lá como alguém importante, sendo convidado a trabalhar na empresa onde atuo hoje, sem sequer ter enviado um currículo.

Quando comecei nessa empresa de confecção, existiam dezenas de outros auxiliares de produção, exatamente como eu, fazendo o mesmo trabalho que eu fazia, com as mesmas ferramentas que eu tinha, e vários deles com mais experiência que eu.

Naquela época, o objetivo mais comum dos auxiliares de produção era se tornar costureiro. E eu compartilhava desse objetivo. Afinal de contas, um costureiro recebia muito mais que eu, se desgastava muito menos e tinha uma profissão — ao passo que, para sempre, teria a profissão “costureiro” para trabalhar em vários lugares. Já o meu trabalho poderia ser substituído por qualquer um, pois não requeria nenhum conhecimento ou experiência.

Logo na primeira semana, procurei meu gerente, me apresentei e disse que gostaria muito de me tornar costureiro, que se ele me desse a oportunidade eu seria muito grato e não o decepcionaria. Ele ficou parado, olhando firme nos meus olhos, e depois de um tempo me disse: “Se você quer costurar mesmo, precisa aprender. Fique depois do horário e ache alguém para lhe ensinar”. Isso era tudo que eu precisava escutar. Pedi a uma das costureiras que eu atendia para me ensinar e ela aceitou de pronto — essa parte foi fácil. Porém, eu trabalhava em pé o dia todo, atendendo à costura. Iniciávamos às sete da manhã e trabalhávamos até as sete da noite fazendo horas extras. Depois desse horário, eu marcava ponto e voltava para aprender a costurar até as nove da noite. Isso mesmo, de graça! Mas isso nunca foi um problema para mim, porque meu pagamento era o conhecimento que estava recebendo. Era assim que eu via as coisas naquela época e, para falar a verdade, ainda é assim que vejo. Então, fui muito bem pago.

Eu me esforçava, e em poucas semanas já conseguia fazer diversas costuras. Em dois meses de empresa, eu já tinha minha máquina de costura. Para mudar de cargo, era necessário que o novo costureiro estivesse costurando durante seis meses, mas com três meses de costura eu já havia sido registrado como costureiro. Lembro que, sempre que voltava para costurar de graça depois do horário, meu gerente ficava de longe olhando. Minhas costuras não apresentavam defeitos e eu conseguia atingir todas as metas de produção.

Em um determinado dia, enquanto eu costurava, uma das costureiras da frente deu um grito perguntando: “Quem está fazendo essa costura que está vindo para mim?”. Ela era de descendência italiana, falava alto e gesticulava muito. Eu gelei a alma. Pensei que havia cometido algum erro grave, e era certeza que eu levaria uma bronca naquele dia. Uma auxiliar disse-lhe que era eu. Ela olhou para trás por cima do ombro e me chamou: “Vem cá! É você quem está fazendo essa costura?”. Eu fiquei com muito medo de ter feito algo errado, mas nunca fui de mentir — e mesmo que fosse, ali não tinha jeito — então respondi que era. Ela deu uma grande risada, imagino que da minha cara de pavor, e disse: “Parabéns, sua costura está melhor que a minha, que sou costureira velha”. Nossa, aquilo foi muito satisfatório para mim. Eu era um menino naquela época, mas foi um dos dias mais importantes que já vivenciei no trabalho, e sou grato a isso até hoje.

Alguns meses se passaram, e começamos a fazer uma mochila para uma grande empresa de cigarros (se você estiver lendo esse texto e o mundo já se tornou um lugar melhor e não existe mais cigarro, que bom — naquele tempo existia). Esse era um pedido gigante: seiscentas mil peças. E nessa mochila tinha uma etiqueta de borracha com a logo do cliente. Essa etiqueta era impressa em uma folha grande e devia ser cortada com uma faquinha com as bordas de metal e uma régua de um metro, também de metal. Como eu era o costureiro mais novo e não havia auxiliares sobrando, me levantaram da máquina de costura para fazer essa operação. Não achei ruim no momento, porque sabia que seria temporário. Mas quando eu ia cortar, alguma vez ou outra a régua saía do lugar e eu acabava cortando algumas etiquetas errado, que eram perdidas. Como a faquinha de corte tinha as bordas de metal, meus dedos estavam muito machucados, doendo muito. Certo dia, chega um homem para ver meu trabalho (vindo da matriz) e se apresenta como sendo o responsável pela qualidade. Eu mostrei as peças danificadas e minha mão para ele e disse que existia um equipamento para cortar papel, que eu não sabia o nome, mas era igual ao que os pedreiros utilizavam para cortar azulejo (depois descobri que era um refilador de papel) e que eu acreditava que, com aquele material, eu não estragaria as etiquetas e minha mão não machucaria mais. Ele disse que entendia, que iria ver, e foi embora. Na semana seguinte, ele volta, me olha e passa direto. Fui até ele, perguntei se havia dado certo, e ele disse novamente que ia ver. Na terceira semana, chega uma pessoa diferente, para ao meu lado e fica olhando. Minha mão estava doendo muito e confesso que minha paciência estava bem próxima de zero. Eu erroneamente deduzi que esse segundo homem era do setor de qualidade também, porque ele estava com o uniforme da matriz, e soltei os cachorros: “Eu falei para o outro da qualidade que poderia testar o equipamento de cortar igual ao de cortar piso! Olha aqui o tanto de etiquetas que estamos perdendo e meus dedos estão machucados”. Ele me olhou tranquilo, apertou os lábios, balançou a cabeça lentamente consentindo, e saiu andando com as mãos nos bolsos. Não falou uma única palavra. Aquela atitude me deu muita raiva, mas eu continuei o que estava fazendo, e sabia que faria por muito tempo ainda. No dia seguinte, estou cortando as etiquetas quando, de repente, alguém joga uma caixa sobre elas. Olhei e vi na ilustração que era um refilador de papel! Me viro, e o homem de ontem estava lá. Se apresentou e disse: “Eu sou chefe do setor de Tempos e Métodos. Sabe o que é isso?”. Eu respondi que não sabia, e ele completou: “É exatamente o que você fez. Nosso trabalho é melhorar os métodos da empresa para ser mais produtivo e mais fácil. Eu quero que você venha trabalhar com a gente”. E com seis meses de empresa, eu já estava no meu terceiro cargo.

Muitas pessoas acharam meu crescimento injusto, porque eu estava na empresa há poucos meses, era um menino ainda e não sabia nem metade do que tinha para saber da costura. Mas é muito comum que as pessoas façam isso, porque, ao olhar para alguém que consegue algo e você não, é doloroso reconhecer que essa pessoa viu coisas que você não viu e fez coisas que você não fez. Para ter esse crescimento, abri mão de direitos — talvez hoje nem existam mais empresas que permitam alguém trabalhar de graça para aprender, devido ao medo de processos trabalhistas. Eu trabalhei mais horas que a maioria. Deixei meus objetivos e necessidades claros para quem tinha poder de me dar a oportunidade (meu gerente e o chefe da cronoanálise). Busquei alguém com habilidade para me ensinar a costurar. Não reclamei quando fui temporariamente rebaixado para cortar as etiquetas. Quando tive um problema operacional, propus uma melhoria exequível; não fiquei apenas na reclamação nem abandonei o desafio. Quando alguém que poderia resolver meu problema não me ajudou, procurei outra pessoa que pudesse. Não fiquei reclamando com meus colegas que não tinham poder algum para fazer qualquer coisa por mim.

Hoje, olhando para essa época, vejo que o ambiente era o mesmo para todos. Havia pessoas até com mais condição que eu. Mas algumas pessoas olham para o trabalho como uma fábrica da Revolução Industrial: uma coisa pavorosa, sofrimento, obrigação, necessidade. Eu olhava com vontade, querendo crescer, sem preconceito de falar com pessoas acima do meu cargo. Era a mesma empresa para todos, mas a diferente forma de enxergar a mesma coisa fez com que a empresa fosse um lugar de oportunidades para mim — e um calabouço sem saída para muitos outros. Eu sempre buscava entender, me dedicava mesmo sem ganho aparente. Até mesmo nessa última narrativa, onde eu já era costureiro, não tinha por que ficar sofrendo para melhorar um processo de auxiliar, que em determinado tempo eu nunca mais faria. Mas, para mim, nunca importou o que eu estava fazendo — sempre quis fazer bem feito e estar entre os melhores.

Acredito muito que o que realmente importa é a forma como a gente enxerga o trabalho, os desafios, as pessoas que estão à nossa volta. Se, para você, o lugar que você trabalha é uma desgraça, as pessoas não prestam, e você não pode fazer nada que não seja sua obrigação, desculpe, mas você vai sempre ter o mínimo.

Esforce-se para ver o trabalho de forma diferente, como uma oportunidade para mudar a sua vida positivamente! A grande maioria das pessoas é boa — mesmo que vocês não se deem bem. Então, relacione-se bem com elas. Busque nelas algo para aprender. Não tenha medo de falar com seu gestor sobre o que você quer aprender na empresa, onde tem vontade de trabalhar, até onde quer ir. E, em troca disso, dê bons resultados, ultrapassando as metas com qualidade, aprendendo coisas acima do seu cargo, tratando todos à sua volta com gentileza, não reclamando de tudo (principalmente sem propor uma solução). De repente, você não recebeu algo bom porque simplesmente ninguém sabia que você queria. Não fique esperando as pessoas oferecerem oportunidades. Busque-as! E, quando alguém crescer e você não, jamais sinta nada negativo por essa pessoa. Analise os passos dela, veja o que você pode assimilar sem perder sua personalidade, e esforce-se também! Tem sol para todo mundo. Você só precisa sair da sombra e suar um pouquinho.

Resumo

Como enxergo meu trabalho muda tudo: Por que alguns têm crescimento profissional outros não?

✔ Fale com seu gestor sem medo e deixe claro que deseja oportunidade de crescimento para determinado lugar.

✔ Esforce-se para aprender coisas novas, mesmo fora da sua função, e de preferência com alguém experiente.

✔ Não fique reclamando! Principalmente com quem não tem autoridade para te ajudar. E quando for reclamar, leve uma solução viável.

✔ Independente do que estiver fazendo, procure estar entre os melhores.

✔ Sempre enxergue a empresa como um lugar bom e os problemas como oportunidades e trate as pessoas com gentileza.

✔ Quando alguém for promovido e você não, anule qualquer sentimento negativo que possa sentir! Analise os passos dessa pessoa e assimile o que for possível sem deixar de ser quem você é.

✔ Tem sol para todo mundo, você só precisa sair da sombra e suar um pouco.

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